domingo, 10 de outubro de 2010

Ausencia - Vinícius de Morais


"...Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos que são doces.
Porque nada te poderei dar
senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto, a tua presença é qualquer coisa
como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto
existe o teu gesto
e em minha voz a tua voz...
Não te quero
porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como uma nódoa do passado.
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros dedos
e tu desabrocharás para a madrugada.
Mas tu não saberás que quem colheu fui eu,
porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa
suspensos no espaço
E eu trouxe até mim
a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu,
das aves e das estrelas
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada..."

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