quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Espectros



"...O que mais me fascinava era a pressa agonizante dos passantes. Olhava cada

rosto, cada olhar esfacelado, cada face carregada de mágoas ou preocupações

nada tangíveis. Tinha gosto e desprezo ao mesmo tempo. Sentia necessidade de

ver os olhos fundos de eminentes lágrimas e, a corrosão dos anos na pele

alheia que revelavam os janeiros passados e o desespero infundado de um

futuro inexistente. Os passantes eram como espelhos. Espectros indesejados

que caminhavam taciturnos por calçadas imaginárias. Todos na distância do

pensamento absorto que me carregava de tempo em tempo, tirando-me da

realidade lacerante e, jogando-me num abismo impreciso entre a memória do

que é e do que não é. E, naquele instante, eu não era..."


(by Flávio Otávio Ferreira)



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