
"...O que mais me fascinava era a pressa agonizante dos passantes. Olhava cada
rosto, cada olhar esfacelado, cada face carregada de mágoas ou preocupações
nada tangíveis. Tinha gosto e desprezo ao mesmo tempo. Sentia necessidade de
ver os olhos fundos de eminentes lágrimas e, a corrosão dos anos na pele
alheia que revelavam os janeiros passados e o desespero infundado de um
futuro inexistente. Os passantes eram como espelhos. Espectros indesejados
que caminhavam taciturnos por calçadas imaginárias. Todos na distância do
pensamento absorto que me carregava de tempo em tempo, tirando-me da
realidade lacerante e, jogando-me num abismo impreciso entre a memória do
que é e do que não é. E, naquele instante, eu não era..."
(by Flávio Otávio Ferreira)
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